A review by igormdemiranda
Grande Sertão: Veredas by João Guimarães Rosa

5.0

Enquanto lia 'Grande Sertão: Veredas', algumas coisas passavam pela minha cabeça:

- A genialidade de Guimarães Rosa em traduzir a oralidade do povo sertanejo para as páginas de um livro é algo assustador de bonito;
- É impossível ler o livro com a sua 'voz'. É preciso ler como Riobaldo fala. É preciso estar lá, sentado em uma cerca, ouvindo aquela história. De outra forma, 'Grande Sertão' se torna uma obra muito mais difícil de se ler e também menos rica;
- Em pleno o ano de 1956, Guimarães Rosa teve a coragem de escrever e abrir dúvidas sobre a sexualidade de um jagunço, um dos personagens mais duros e machos da cultura brasileira.

À parte essas idéias, sinto falta do sertão. A descrição realista de Guimarães Rosa nos transporta para o lugar; para as fazendas, para as pedras, para os raros filetes de água dessas terras secas. Faz-me lembrar de um momento breve de minha infância onde presenciei a dureza do sertão paraibano; os açudes secos, as lagartixas correndo por debaixo das pedras.

“Sertão é isto: o senhor empurra para trás, mas de repente ele volta a rodear o senhor dos lados. Sertão é quando menos se espera.”

Mas logo sou tragado de volta, para as aventuras de Riobaldo.

Capitaneado por Joca Ramiro, Medeiro Vaz ou Zé Bebelo, Riobaldo sempre foi o mesmo: homem bravo, certeiro no tiro, reflexivo. Quando rememora e conta a sua história em 'Grande Sertão: Veredas' isso tudo fica muito claro. O que também fica claro é a sua adoração por Diadorim, o jagunço de olhos verdes, sempre ao seu lado.

Pelos sertões ou veredas dos Gerais, Riobaldo lutou batalhas diversas, encontrou e perdeu amores, viu muita maldade, questionou a fé e sentiu o cheiro do Diabo nas ruas 'em meio aos redemunhos'. Foi ao limite para vingar traições em uma batalha épica e, ao fim, com muita tristeza, teve uma grande surpresa. Fiquem tranquilos, essa surpresa, eu jamais estragaria.

E assim quando a história termina é hora de levantar da cerca, dar tchau para Riobaldo e apenas ruminar, ruminar e ruminar as palavras daquele sábio homem do sertão.