A review by j_elphaba
A Sereia by Carolyn Turgeon

3.0

Acho fantástica a capacidade que algumas histórias têm de saltar do nosso imaginário pueril e nos atingirem na maturidade com a mesma intensidade de outrora, de um outrora em que desconhecíamos os desígnios da paixão, de um outrora em que ser-se sereia era um sonho quase tangível de alcançar.

É entre o vento frio das terras altas norte e o murmurar selvagem das ondas do mar que conhecemos as três personagens principais desta história que reavivarão as memórias da nossa infância, não com uma mas, desta vez, com duas princesas corajosas que farão tudo por aquilo em que acreditam.
Margrethe e Lenia são duas princesas oprimidas, pelas escolhas dos seus reis, pais, que as inibem de encontrar o que realmente anseiam. Enquanto Margrethe vive enclausurada num convento devido às guerras travadas pelo homem em nome da honra, Lenia encontra-se presa no mar, sem poder vir à superfície, longe dos caminhantes que a fascinam com os mil tesouros que deixam perdidos no oceano, até ao dia do seu 18.º aniversário, dia em que vem a terra e, por coincidência salva um homem muda para sempre aquele que era, como certo, o seu destino, Christopher. Entre o salvamento de uma vida e o despertar de desejos singulares, proibidos, este jovem valente sem armadura irá tornar-se a esperança e o amor de uma mulher e de uma sereia que através de uma estranha amizade mudarão o rumo dos seus reinos na terra e no mar.

Com um valor genuíno que irá atrair muitos leitores esta narrativa encontrou o equilíbrio perfeito, entre a inocente felicidade da adaptação Disney e o verdadeiro, trágico, clássico de Hans Christian Andersen, através do seu triângulo amoroso, desigual e familiar, que prima pela intensidade das emoções vividas e as peculiares alusões ao reino do maravilhoso que apelam ao deslumbramento na mesma medida em que desperta antigas fantasias que prevalecem na memória de todos nós. E, embora exista uma boa dose de ambas as histórias neste livro, a verdade é que é imenso o que se encontra exposto para lá da belíssima capa que acompanha esta publicação Planeta Manuscrito.
Dos cenários épicos, onde os reis são suseranos, à profundeza dos oceanos, que explodem em melodias e cores, o amor continua a ser a principal força impulsionadora daqueles que dão vida a estas páginas mas são os seus pormenores, constantes, que conferem uma nova luz aos contornos fantasiosos onde se encontram as encantatórias sereias. As diferenças entre a vida em ambos os reinos, a par com o contraste entre o brilho e as trevas que neles existe, é outro dos pontos fortes desta história que se expõe numa vertente mais ousada, surreal e adulta onde vingam as vozes das suas protagonistas arrojadas que combatem o perigo em nome do amor.

Sim, esta é uma obra para os amantes de antigas histórias de encantar e para os corações mais românticos, mas também para um público diversificado de fantasia que dá primazia ao lado negro da luz que aventura a morte, a espuma, em nome de algo maior.

Opinião completa: http://historiasdeelphaba.blogspot.pt/2012/10/a-sereia-carolyn-turgeon-opiniao.html