A review by rui_leite
À Volta da Lua by Jules Verne

3.0

Bem... para ser justo esta vai ser uma review ao "Da Terra À Lua" e ao "À Volta Da Lua" como um conjunto, já que a história completa só se obtém ao se ler estes dois juntos.
Quando comecei a ler estes livros esperei quase um "regresso a casa" já não pegava num Verne há quase 13 anos e tinha recordações muito boas de os ler quando era mais novo.

De facto, "Viagem ao Centro da Terra" foi o primeiro livro com mais de algumas dezenas de páginas e sem ilustrações que alguma vez li, devia eu ter uns 10, 11 anos e "A Volta ao mundo em 80 Dias" foi o primeiro livro pelo qual verdadeiramente me apaixonei (ao ponto do "Phileas Fogg" ser, genuinamente, o meu herói, eu queria ser como ele). Verne, na minha imaginação, era o rei das narrativas.

Foi só quando comecei a ler "Da Terra À Lua" que me apercebi do quanto eu deixava passar quando era mais novo e não tinha grandes ideias de como uma história deveria correr. Desta vez, as barragens de informação cientifica que Verne parece soltar linha sim, linha sim aborreciam-me e as personagens pareciam-me apenas ligeiramente definidas. Havia potencial em todas elas, mas acabavam por tomar segundo lugar face aos pormenores técnicos... Isto aconteceu em ambos os livros.
Simpatizei com todos eles: J. T. Maston era frequentemente divertido, Barbicane, not as much mas ainda assim interessante, não se podia ter pedido mais de Michel Ardan, que sempre foi o gajo que dava voz aos leitores quando os cálculos e o paleio técnico pareciam sair da página "Oh, sim, perfeitamente compreensível." e gostaria de ter lido muito mais de Nicholl que, afinal, viajava para a Lua, com toda a certeza de que isso era praticamente um suicídio, esperava ainda alguma picardia entre Nicholl e Barbicane uma vez que estes tivessem trancados, juntos, no interior da "bala" que os levaria à Lua, em vez disso a rivalidade estabelecida entre os dois no primeiro livro é seriamente desperdiçada. Pena senhor Verne.

Onde estes livros brilham, isso sim, é na precisão com que fazem descrições de acontecimentos e conhecimentos que chegariam apenas um século mais tarde. A viagem quase que chega a parecer praticável, se excluirmos alguns pormenores e, de facto, é assustadoramente próxima daquela feita pela Apollo 11. Nisso não se pode tirar genialidade a Verne.
Mas em termos narrativos, deixa a desejar... os "princípios" e os "fins" até são bons, mas os "meios" são cheios de páginas e páginas, capítulos e capítulos de detalhes técnicos que em si, não constituem uma história.

Desta forma, e para minha surpresa, esta leitura custou-me, em parte por isso, mas também ( principalmente) porque a cada página um mito da minha infância e adolescência (sim, eu era um nerd de todo o tamanho...ok...ainda sou, point taken...) parecia desmoronar-se. Talvez eu, com 14/15 anos, fosse mais tolerante com os meus autores do que sou agora...ou talvez não percebesse nada disto e apenas ignorava as partes aborrecidas e focava-me nas partes boas (que existem e SÃO bastante boas)... mas, de uma forma ou outra, vejo agora que Verne não é, de longe nem de perto, o melhor ou o mais apaixonante autor que já li. No entanto, entenda-se, ainda se mantém como profundamente interessante e, para além da sua visão cientifica, ganha pontos extra pelo apurado sentido de humor que brilha em momentos bastante inesperados.