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Farmacêuticas da Treta by Ben Goldacre, Ben Goldacre

vaniaasantos's review

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5.0

Aviso à navegação: esta review vai alongar-se mais do que devia.
Este 1º semestre, tive uma unidade curricular denominada "Bioética e Biossegurança", onde são discutidos os pontos morais e éticos aceitáveis na ciência e investigação e que deverão estar sempre presentes na mente se queremos fazer boa ciência. E na bibliografia, relativamente ao módulo Biossegurança, este livro figurava como bibliografia. Na altura, a professora apenas nos disponibilizou o capítulo relativo aos ensaios clínicos visto que o nosso debate iria debruçar-se sobre eles. No entanto, apenas esse capítulo foi o suficiente para me abrir a curiosidade para saber que nem sempre todas as pessoas que, neste caso, trabalham na indústria farmacêutica estão realmente interessadas no bem-estar de doentes e pessoas que necessitam realmente de medicamentos para sobreviverem dia-a-dia, e que em maior parte dos casos apenas estão em interessadas em vender um medicamento porque irá dar imenso lucro à farmacêutica em questão.
Este livro é aterrador e surpreendente. O autor, um médico, vai realmente ao fundo da questão, fazendo referências a dados, e dando-nos a conhecer o mundo onde as ligações com médicos, a publicitação de medicamentos para influenciar os doentes, os dados em falta de inúmeros ensaios clínicos, a não publicação de estudos que demonstram efeitos secundários e adversos, e como tudo isto induz médicos em erro (não deixando de referir que muitos também colaboram com a indústria) e como, em todas as vezes, o doente acaba por sofrer muito mais com a cura porque realmente não se mostrar tudo.
E a triste realidade, como caso do ensaio clínico da Bial onde faleceu, salvo erro, um "voluntário" (sim, encontra-se entre-aspas porque normalmente são, tal como a notícia refere, estudantes - e é necessário pagar as propinas, e são caras; portanto, será ético pessoas em dificuldades económicas verem o voluntariado nestes ensaios como uma forma de terem algumas economias?) ter falecido na sequência de uma dose de medicamente mais elevada, onde na primeira fase, os testes são feitos em indivíduos saudáveis de forma a saber os efeitos secundários.
São inúmeras as questões éticas com que nos debatemos neste livro, e acabamos por perceber que é necessário ter cuidado com aquilo que tomamos, porque nem sempre por ser um medicamento novo é bom, aliás, até poderá ser mau porque não se sabe realmente tudo sobre ele, e que os genéricos não são mais do que a mesma produção de um medicamento de uma outra empresa simplesmente porque a patente expirou e a empresa que o fabricou inicialmente já não tem os direitos sobre ele.
Aconselho este livro, acho que nos abre os horizontes relativamente ao que realmente se passa nesta indústria que, muitas vezes, vê apenas em termos económicos e não éticos, mas leva-nos a um maior espírito crítico relativo ao que consumimos; não deixando de significar que todas as farmacêuticas são más, quero acreditar que existe muito boa gente a trabalhar para essas empresas que fazem realmente coisas notáveis e que existe por aí farmacêuticas realmente boas que se preocupam mais com os doentes. Ou seja, há que ter um maior espírito crítico relativamente à realidade.
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